terça-feira, 31 de julho de 2012

Arvóres



Horas mortas... Curvada aos pés do Monte 
A planície é um brasido e, torturadas, 
As árvores sangrentas, revoltadas, 
Gritam a Deus a benção duma fonte! 

E quando, manhã alta, o sol posponte 
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, 
Esfíngicas, recortam desgrenhadas 
Os trágicos perfis no horizonte! 

Árvores! Corações, almas que choram, 
Almas iguais à minha, almas que imploram 
Em vão remédio para tanta mágoa! 

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
Também ando a gritar, morta de sede, 
Pedindo a Deus a minha gota de água! 

Florbela Espanca